Angola e a Ilusão da Liberdade de Expressão

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O Caso Albino Pakisi e o Perigo do Pensamento Único

Por : Henda Ya Xiyetu

Luanda – O afastamento do docente universitário e comentarista político Albino Pakisi do programa Revista Zimbo, após suas declarações polêmicas sobre o caso das “60 toneladas”, é mais um sintoma alarmante da crise da liberdade de expressão em Angola. Pakisi, conhecido por suas análises contundentes, classificou a narrativa oficial sobre as supostas toneladas de material atribuído a um grupo terrorista como “um teatro” – e, por isso, viu sua presença na mídia tradicional ser colocada em xeque.

O que esse episódio revela não é apenas uma decisão editorial, mas um mecanismo muito mais perigoso e profundo: a imposição de uma narrativa única que não pode ser questionada. Em sociedades onde a verdade pertence apenas a um grupo, e todos os outros devem submeter-se a essa visão, o pensamento crítico é sufocado e a democracia torna-se apenas um rótulo vazio.

A Censura Velada e o Perigo do Pensamento Único

A liberdade de expressão é um dos pilares fundamentais de qualquer sociedade democrática. No entanto, em Angola, ela existe apenas na teoria. O caso de Pakisi não é isolado; ele se insere em um padrão de repressão sistemática que impede qualquer tentativa de questionamento do status quo.

Historicamente, regimes autoritários não precisam de leis explícitas para reprimir vozes dissidentes – basta criar um ambiente onde a punição para quem “fala demais” seja clara o suficiente para que os outros se autocensurem. Quando jornalistas, analistas e cidadãos comuns percebem que expressar certas opiniões pode custar-lhes empregos, oportunidades ou até a liberdade, eles naturalmente passam a medir suas palavras. Esse fenômeno cria um país onde apenas um grupo tem o direito de decidir o que pode ser discutido e o que deve ser silenciado.

A TV Zimbo, antes um canal independente, foi estatizada em 2020 e desde então tem demonstrado alinhamento com a narrativa oficial. O afastamento de Pakisi reforça essa tendência, deixando evidente que há limites invisíveis para o debate público em Angola.

O Monopólio da Narrativa e a Submissão Coletiva

O maior problema de uma sociedade onde apenas um grupo define a verdade é que ela se torna incapaz de se reinventar. Sem o confronto de ideias, sem a possibilidade de discutir diferentes visões sobre um problema, o país cai em um ciclo vicioso de mediocridade e estagnação.

Na política, isso significa que o poder nunca é desafiado de verdade. Na economia, significa que as ideias inovadoras são esmagadas antes mesmo de terem a chance de florescer. Na cultura, significa que apenas um tipo de arte, pensamento ou visão de mundo tem espaço para existir.

Angola se encontra, assim, em um estado de perigo iminente: um país onde a verdade é determinada por um pequeno grupo, e onde os cidadãos são forçados a aceitar essa verdade sem questionamento. Quando uma nação chega a esse ponto, ela perde sua capacidade de evolução.

O afastamento de Pakisi é apenas um reflexo desse problema maior. Mas até quando os angolanos aceitarão viver em uma sociedade onde discordar significa ser silenciado?

A história mostra que nenhuma estrutura autoritária dura para sempre. Mas, até que esse ciclo seja quebrado, Angola continuará refém de uma verdade única – uma verdade que serve a poucos, mas que se impõe sobre todos.

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